segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

A IARA

Autor: Lemos, José

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Um boto e uma Tartaruga

Há muitos anos passados existiu quase em frente ao estabelecimento comercial do senhor Manuel Oliveira Lamarão, instalado na parte sul do majestoso prédio do Mercado Municipal no inicio da Rua Fileto Pires com a Avenida 15 de Novembro um quiosque de madeira cujo proprietário teve o cuidado de colocar ao lado do seu comercio uns bancos para descanso de seus fregueses, na maioria composta de catraieiros, marítimos, carregadores, valentes e desocupados: os quais entre um gole e outro contavam suas façanhas vividas na terra, no mar e até no ar.

Uns histórias de amor felizes outros de dores e sofrimentos invocando na maioria das vezes as figuras lendárias do boto, cobra grande e da Iara.

Certa vez quando ia comprar peixe no Mercado me aproximei daquela reunião e pude ouvir de um pescador já velho e alquebrado a seguinte história:

Não julgue meus amigos ser contos de fadas a existência da Iara. Ela existe eu já a vi com esses olhos que a terra fria há de comer. Voltava de uma pescaria no inicio da madrugada quando defrontando uma praia próximo á minha casa avistei uma jovem de cabelos longos, nua, banhando nas águas prateadas pelo clarão límpido da lua. Ela nadava e em seguida ia deitar-se na areia de barriga para cima como um convite ao pecado.

Naquele tempo não era o velho de hoje. Era um moço forte e cheio de coragem. Silenciosamente me aproximei da margem e encostei a canoa um pouco afastado do local e como um animal selvagem fui me arrastando pôr entre as oiranas, alheio ao perigo de uma picada de cobra ou outro inseto não menos venenoso. Minha emoção era tão forte que pôr várias vezes fiquei como flutuando numa outra dimensão. Senti o mundo girar em torno de mim a vista escurecer. O motivo estava a pouco passos, provocando uma sensação estranha de fraqueza que dominando todo o meu corpo poderia me desmoronar a qualquer momento.

Confesso que nunca imaginei pudesse existir uma criatura de tanta formosura beleza assim somente a mão de Deus é capaz de produzir. Ela continuava a banhar-se e ao sair das águas ficava a contemplar o luar e aspirar o aroma estonteante que só as flores mas simples são capazes de exalar.

Num momento em que ela parecia distraída como um raio me atirei de braços abertos ao encontro daquele corpo maravilhoso. Pude sentir apenas o ar do seu deslocamento em direção ao rio; de onde, com os seios de fora, me chamava com gestos carinhosos.

Como um louco me arremessei na águas e quando minhas mãos tremulas de emoção seguravam os braços rígidos da cabocla, ela desapareceu para sempre, deixando-me viver até hoje de suas recordações. Muitas e muitas vezes voltei ao local, principalmente em noite de luar, porém nunca mais consegui encontrá-la novamente.

De seus olhos, grossos bagos de lagrimas rolaram. Vendo-o chorar perguntei-lhe o porque; e ele me respondeu que chorava de tristeza. Ao dizer-lhe que não valia a pena, o velho pescador passando a manga de sua camisa sobre os olhos marejados de lagrimas, respondeu: É porque você não pode avaliar, a saudade que ela deixa...no coração da gente.

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