quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

O CÉU E O INFERNO

 por-do-sol 01

Pôr-do-sol (Itacoatiara)

Autor: PAULO COELHO

Um homem, seu cavalo e seu cão caminhavam por uma estrada. Quando passavam perto de uma árvore gigantesca, um raio caiu, e todos morreram fulminados.

Mas o homem não percebeu que já havia deixado este mundo, e continuou caminhando com seus dois animais; às vezes os mortos levam tempo para se dar conta de sua nova condição...

A caminhada era muito longa, morro acima, o sol era forte e eles ficaram suados e com muita sede. Precisavam desesperadamente de água. Numa curva do caminho, avistaram um portão magnífico, todo de mármore, que conduzia a uma praça calçada com blocos de ouro, no centro da qual havia uma fonte de onde jorrava água cristalina.

O caminhante dirigiu-se ao homem que guardava a entrada.

- Bom dia.

- Bom dia - respondeu o homem.

- Que lugar é este, tão lindo?

- Aqui é o Céu.

- Que bom que nós chegamos ao céu, estamos com muita sede.

- O senhor pode entrar e beber água à vontade.

E o guarda indicou a fonte.

- Meu cavalo e meu cachorro também estão com sede.

- Lamento muito, mas aqui não se permite a entrada de animais.

O homem ficou muito desapontado porque sua sede era grande, mas ele não beberia sozinho; agradeceu e continuou adiante. Depois de muito caminharem, já exaustos, chegaram a um sítio, cuja entrada era marcada por uma porteira velha, que se abria para um caminho de terra, ladeada de árvores.

À sombra de uma das árvores, um homem estava deitado, cabeça coberta com um chapéu, possivelmente dormindo.

- Bom dia - disse o caminhante.

O homem acenou com a cabeça.

- Estamos com muita sede, meu cavalo, meu cachorro e eu.

- Há uma fonte naquelas pedras - disse o homem e indicando o lugar. - Podem beber a vontade.

O homem, o cavalo e o cachorro foram até a fonte e mataram a sede. Em seguida voltou para agradecer.

- Por sinal, como se chama este lugar?

- Céu.

- Céu? Mas o guarda do portão de mármore disse que lá era o céu!

- Aquilo não é o céu, aquilo é o inferno.

O caminhante ficou perplexo.

- Vocês deviam evitar isso! Essa informação falsa deve causar grandes confusões!

O homem sorriu:

- De forma alguma. Na verdade, eles nos fazem um grande favor. Porque lá ficam todos aqueles que são capazes de abandonar seus melhores amigos...

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