terça-feira, 1 de dezembro de 2009

SONHO DE PESCADOR


Autor: José Lemos
Madrugada ainda, quando Manoel Antero foi bater á porta do seu compadre Chico Dias para a combinada pescaria, cujo resultado, traria a garantia do almoço, para a turma comprometida na preparação da área destinada ao plantio do jutal do seu Chico; que todos os anos era feito da mesma forma, ou seja, troca de trabalho; comum naquela época, quando não era ainda usado a habitual forma de pagamento diária. Era o tradicional Ajuri ou Puxirum quando o dono do serviço ficava comprometido a prestar a qualquer dos participantes a ajuda que lhe era oferecida no momento.
Era simplesmente a “troca”, valida também quando o assunto era alimentação. Quando algum matava um tambaqui ou uma caça, o produto era repartido irmanamente entre os vizinhos, que faziam o mesmo, religiosamente.
Chico Dias, depois de quebrar jejum, saiu com seu apretecho de pesca, na companhia de Antero, posta a canoa em condições foram em busca do local onde o peixe era muito abundante, apesar de como sempre acontece, existir a infalível “pousada”. No lançamento, seu Dias deixou a tarrafa descer toda a extensão da corda, para iniciar o recolhimento. Aí sentir que a mesma engatada, no fundo, pois apesar do esforço, não conseguiu trazê-la á torna. Na ocasião, o sol já estava esquentando, e depois de longo bate papo, abriram a garrafa de cachaça e começaram as intermináveis histórias, quando Antero resolveu descer para desengatar a tarrafa, presa em algum toco. Pediu ao companheiro que segura-se firme a corda que o guiaria até o fundo. Na metade da descida Antero sentiu falta de ar e como um relâmpago retornou a superfície, quase entregando os pontos.
Depois de tomar mais um gole, sentindo-se capaz de desempenhar seu intento, desceu novamente e foi diretamente onde estava a tarrafa, por sinal abarrotada de peixes. Lentamente retirou-os, e um a um foi enfiando num cipó que encontrou próximo. Livre a tarrafa, a pinga começou a fazer efeito e nosso herói resolveu descansar um pouco deitado no próprio toco onde a mesma estava subjugada, aproximadamente oito metros de profundidade. Depois de fumar um cigarrinho, pegou no sono. Até ser acordado pelo movimento brusco da tarrafa que estava sendo içada já pela Dona Elvira, que preocupada com a demora veio em busca do seu Chico que dormia a todo pano, completamente bêbado, no porão da canoa. O pessoal que iria trabalhar no roçado, estava pronto a receber o corpo de Antero, que tudo indicava vinha subindo enrolado na rede de pesca onde pouco antes lhe servira de leito. Se houvesse naquela ocasião, aparecido uma cobra tocando sanfona, não causaria tanto assombro quanto da aparição com vida, do Antero. Foi uma debanda geral e talvez daqui algum tempo voltem a pensar no roçado do Chico Dias.
Foi uma luta, convencer ao Antero a não voltar a mergulhar no local, pois o mesmo queria porque queria, ir buscar os peixes esquecidos nas profundezas das águas, todos devidamente enfiados e que não serviram para o almoço, nem mesmo dos pinguços.

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